quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Junei Marques tenta corrigir erro com documento ilegal

Jornal da Praça denúncia irregularidade na prefeitura de Antônio João
Na tentativa de escapar de uma possível ação judicial por ter enviado à Câmara Municipal um projeto ilegal, prevendo a doação de um veículo da prefeitura ao clube do laço do município, o prefeito de Antônio João, Junei Marques (PSDB) acabou cometendo outra ação irregular, ao ‘produzir’ um termo de cedência do carro, sem valor jurídico perante a legislação.
A polêmica teve início quando Junei Marques convocou uma sessão extraordinária da Câmara para votar em regime de urgência a doação de uma GM/Blazer, ano 98, placas CME-5416 para o Clube do Laço Florêncio José Pereira, uma entidade privada. Ocorre que o veículo havia sido doado à Prefeitura de Antônio João pela Receita Federal do Brasil e sua doação contraria a legislação federal.
A votação não se concretizou em função de pedido de vistas da vereadora Cléia Marques (PSDB) e o projeto só deve voltar a ser analisado no próximo dia 14, quando os vereadores retornam ao trabalho, em duas votações, por se tratar de sessão ordinária. Sem conseguir a aprovação, o prefeito decidiu entregar o veículo por sua conta e risco, na abertura de uma festa que estava sendo realizada pela entidade.
O carro já estava ‘envelopado’ com logomarca e foto do clube, o que também é proibido pela legislação, podendo ocorrer sua apreensão pelo policiamento de trânsito. A doação gerou protestos na cidade, já que o prefeito teria de priorizar o atendimento às necessidades dos órgãos municipais, como o Conselho Tutelar, que não tem carro.
O presidente da Câmara Municipal, Kamil Hazime, entrou em contato ontem para se eximir da responsabilidade, alegando que o projeto passará pelas comissões e tramitará normalmente antes de ser votado. “Não desrespeitamos a população e nem a lei, o projeto está na Casa e será apreciado após o dia 14”, afirmou. Hazime disse também que o prefeito firmou uma cedência e que a Câmara não tem participação, por ser “prerrogativa do Executivo, independente da decisão do Legislativo”.
O documento a que se refere o vereador é um Termo de Cedência assinado por Junei Marques e pela secretária municipal de Administração e Planejamento, Neuza Carrilho Modesto, datado de 27 de janeiro, dia da abertura da festa do clube do laço, no qual Junei Marques entrega à entidade a Blazer “usada e em bom estado de conservação”, em “cedência de uso com transferência de responsabilidade”, até 31 de dezembro de 2012, quando finda seu mandato.
Consultados ontem, altos dirigentes da Receita Federal estranharam a tentativa de doação do carro a uma entidade privada. A inspetora-chefe da Receita Federal em Ponta Porã, Andreza Viana Ramos, disse que os termos de doações da Receita Federal são “criteriosos e específicos”, ou seja, os bens são doados às prefeituras para uso no âmbito do poder público municipal. Não podem ser vendidos, doados ou cedidos, mesmo que temporariamente, a órgãos particulares.
A prefeitura não pode se desfazer do bem móvel em nenhuma circunstância, a não ser em leilão, e mesmo assim, no caso de veículos, só pode ser leiloado como sucata, não podendo ser recolocado em circulação. A documentação do bem móvel é colocada em nome da prefeitura, que se torna responsável por toda e qualquer conseqüência de sua utilização, sendo ilegal a ‘transferência de responsabilidade’.
Em síntese, o próprio projeto de lei enviado pelo prefeito à Câmara, tratando de doação do veículo doado pela Receita Federal, é ilegal. Em conseqüência, o ‘Termo de Cedência’ emitido pelo Executivo também não tem valor legal, já que contraria a legislação em vigor e o ato de emitir tal documento caracteriza desvio de finalidade, tipificado nos crimes contra a ordem pública.

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